“Naqueles dias, Ele foi à montanha para orar e passou a noite inteira em oração á Deus. Depois que amanheceu, chamou os discípulos e dentre eles acolheu doze, aos quais deu o nome de apóstolos”. (Lc 6,12)
No Evangelho de Marcos, Jesus nos descreve o itinerário do discípulo: chamado para permanecer, escolhido, enviado com autoridade. Nesse trecho do Evangelho de Lucas, vem nos mostrar que os doze apóstolos foram tirados do meio dos Seus discípulos.
Sabemos que são fases distintas, que se completam entre o discipulado e o apostolado.
O primeiro passo do itinerário de formação de Jesus, chamado para permanecer, é exclusivo do discipulado, após cumprir esse primeiro passo, os discípulos são convidados a se tornarem apóstolos. Mas isto não significa dizer que o apóstolo deixa de ser discípulo, uma vez que este é um chamado para a vida, para o ser, enquanto o apostolado é um chamado para o fazer.
Por isso o discipulado e o apostolado estão de tal maneira entrelaçados, que muitas vezes nos confundimos. Vamos tentar aqui estabelecer a identidade de cada um.
No Evangelho de Mc 3,13-19, Jesus estabelece um itinerário para a formação dos seus seguidores.
“Depois subiu à montanha, e chamou a si os que ele queria, e eles foram até ele”.
O primeiro passo para a formação, consiste justamente, no chamado. A pessoa precisa sentir-se chamada para o discipulado. Não importa o seu “apostolado” ou o seu “ministério”; o primeiro chamado se refere à etapa de formação, ou seja, o momento em que Deus vai trabalhar para formar a pessoa para depois ela assumir a missão. O que percebemos é que muitas vezes esta etapa é “queimada”, ou seja, quando do chamado já se quer de imediato assumir um ministério. Na sequência dessa passagem, vemos que Jesus chama para uma finalidade, com um objetivo primeiro: ficar em Sua companhia. A Palavra não diz que Jesus os chamou para enviá-los, mas para ficarem em Sua companhia e depois enviá-los.
Se nos detivermos nos evangelhos, vamos perceber que existe uma grande distância em termos de tempo entre o CHAMADO e o ENVIO.
A primeira vocação do homem ao ser chamado por Jesus, é para estar com Ele, este é o passo mais importante para o discipulado. O discipulado é o laboratório onde o seguidor de Cristo é formado. É verdade que ele poderá ou não passar para um próximo passo, mas uma coisa é definitiva: ninguém pode assumir um ministério, sem antes ser discípulo.
Portanto, o discípulo é aquele que é chamado para ficar com Jesus, para ser formado por Ele, para ser trabalhado pelo Divino Oleiro.
Não podemos considerar o discipulado como uma fase transitória de nossa vida: nunca deixaremos de ser discípulos, só que quando estivermos preparados, poderemos assumir missões. Durante e após, devemos, estar sempre com Jesus. O discípulo trabalha sempre com Jesus e não para Jesus. Se todos que assumem missões na Igreja, nas pastorais ou movimentos, por exemplo, fossem antes discípulos, com toda certeza, a probabilidade de acertos seria bem maior.
No livro do Êxodo 33,7-11, encontramos um fato bastante interessante para a compreensão do discípulo. Moisés armou a tenda que era o local de consulta à Deus. Moisés tinha vários discípulos ou seguidores, mas de um modo particular, ele tinha um discípulo muito especial, que tinha compreendido muito bem o processo formador de Deus (vers. 11b)… “mas seu servidor Josué, filho de Num, moço ainda, não se afastava do interior da tenda”. Josué tinha entendido que sua formação seria ao lado do Senhor, seu Deus, e ao contrário do que podemos imaginar, isso não significava que Josué não fosse um homem de ação. No combate entre Israel e Amalec (Ex 17,8-10), vamos ver que ele era o homem de frente do exército de Israel, assim como foi o homem escolhido para fazer o reconhecimento da terra prometida (Nm 13,1-16).
Josué tinha suas missões, e após cumpri-las, voltava para a tenda. Este é o melhor exemplo de discípulo. E porque soube permanecer ao lado do senhor, Deus o escolheu para uma missão.
“O Senhor respondeu a Moisés: ‘toma Josué, filho de Num, homem em que está o espírito”. (Nm 27,18)
O segundo passo, depois que somos escolhidos, é permanecermos ao lado do Senhor. É aí que Eles nos forma e nos prepara para a missão, somos escolhidos para realizar a missão.
“O Espírito na Igreja forja missionários decididos e valentes, indica os lugares que devem ser evangelizados e escolhe àqueles que devem fazê-lo.” (DA 150)
Foi assim que Jesus agiu. Escolheu doze entre os Seus discípulos, para enviá-los com autoridade. Antes porém, Jesus os formou e os capacitou. Desta forma podemos sintetizar o itinerário de formação de Jesus, nos seguintes pontos:
* somos escolhidos a permanecer com Ele, depois escolhidos para uma missão e enviados com autoridade.
Não podemos inverter a ordem e começar pelo envio, como faz Marta em relação à Maria (Lc 10,38-41):
“Sua irmã, chamada Maria, ficou sentada aos pés do Senhor, escutando-Lhe a Palavra. Marta estava ocupada pelos muitos serviços”.
Aqui temos claramente o relato do SER e o do FAZER. O ser discípulo representado pela figura de Maria sentada aos pés de Jesus, inebriando-se com Suas palavras, e o fazer de Marta, que se preocupava com o serviço e com as atividades.
Jesus não censurou Marta por ela estar trabalhando, mas por não permanecer aos Seus pés e escutar o que Ele queria. É apenas uma inversão de ordem: primeiro permanece e depois age.